3 de junho de 2008

Quem é quem nesta história?

“Milicianos é uma palavra suave para dizer o que são: bandidos associados a policiais-bandidos. Tiranizam favelas — como os traficantes —, mas alguns são pagos com dinheiro público; foram treinados e armados pela sociedade.”
Mirian Leitão
“Ele tinha o gosto pela notícia quente e o destemor de buscá-la. Enfrentava e às vezes até afrontava o perigo. Conhecia como poucos o outro lado, o lado desvalido desta cidade que amava tanto. Não é possível, não é justo que tenha sido imolado por isso”.
Zuenir Ventura
Bandido mata polícia que mata bandido e os dois juntos matam inocentes, torturam e expulsam famílias inteiras de suas casas.
Cada um na sua, mas com alguma coisa em comum: o desejo de dominar.

Ninguém é santo nesta história, mas por várias razões quem vive sob o domínio deles os defendem. A Dª. Maria lá da Cidade de Deus não quer milícia na favela por que não quer ter sua vida monitorada pela “mineira” (ou milícia, tanto faz). Ela se julga livre.
Já o Sr. Zé lá do Rio das Pedras, jamais moraria na Cidade de Deus por que não quer viver perto de bandido.
Ninguém percebe que nesta guerra não existe mocinhos nem liberdade. Nem mesmo aqueles que conseguem, sei lá como, viver paralelamente a tudo isto.
Aqueles que já me conhecem sabem que nasci e vivi até os 23 anos na Cidade de Deus, hoje moro numa área dominada pela milícia. Sinceramente minha vida não mudou. Na CDD, sempre vivi em relativa Paz e nunca fomos importunados. Aqui é a mesma coisa. E mesmo vivendo sem problemas eu estou cansada. Esgotada. Enjoada dessas histórias. Farta de ver pessoas terem seus “destinos” decididos por uma gente qualquer. Cheia de assistir amizades, amores, famílias... Serem regidas por uma lei ilícita.
Tudo girando em torno de algo que na teoria nem existe.

É uma guerra por todos os lados, cheia de pontas e sem alguém pra quem eu possa apontar o dedo e dizer “O problema é seu. Resolva.” Por que todo mundo é responsável, de alguma forma. Inclusive eu, que não sou santa e também cometo minhas falhas.
Há tempos que parei de responsabilizar o Estado por todas as desgraças da vida, mesmo por que acima dos governantes está o povo que os elegem e este é apenas um dos tantos pontos de vista. Como eu disse é uma guerra cheia de pontas.

Aí você se pergunta: “Morreu alguém especial pra você, Luciana? ” Não, especial pra mim, não, mas com certeza pra alguém, Sim. Com certeza agora, em algum lugar, tem gente chorando por alguém especial, seja ela um jornalista, policial, bandido ou um cidadão qualquer, mas que morreu em função desta guerra que existe, mas que muitos insistem em não vê-la.

“Tim, ao menos, foi cuidar da vida dos outros. Da vida de quem não tem quem zele por ela, da vida de quem teme ter um filho recrutado pelo tráfico ou uma filha amasiada com um traficante (com tudo de violência e brevidade que isso implica), da vida de quem sente o horror, o horror, da vida de quem ausculta o coração das trevas. Tim Lopes, quem diria, morreu porque foi cuidar da vida das outros”.
Artur Dapieve

9 comentários:

  1. Assino embaixo do seu texto, Nana !!

    Claro que não devemos apenas ficar acomodados só botando a culpa de tudo no Governo, embora devamos reconhecer também que se Estado não cumpre suas obrigações com o povo, esses caras da chamada "milícia" vão deitar rolar em cima da incompetência do Governo, pois um povo desamparado precisa de heróis e eles, supostamente, estão lá para cumprir esse papel ..

    Todos sabem que eles não são heróis coisa nenhuma, mas se eles dão uma cesta básica para a dona Maria, compram o gás para o seu João e pagam a conta de luz da dona Joana, para essas pessoas eles representam divindades que estão muito acima do Governo, que nem sabe que elas existem, e por isso eles mandam e desmandam nessa comunidade e todos se calam, porque se sentem seguros e amparados .. Mas é claro que tudo tem seu preço !!

    Ótimo texto, Naninha, beijo !!

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  2. Esta questão da segurança no Brasil virou caso seríssimo e em particular no Rio de Janeiro. Penso haver necessidade de interveção crônica e eficaz, porque não dá mais.
    Cadinho RoCo

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  3. Pois é deixo aqui registrado a minha indgnação pela falta de justiça que há em nosso país. Amo o Brasil, o povo solidário e a nossa miscigenação, que fez essa pátria multicultural. Porém não podemos admitir que a impunidade tome conta, e aceitarmos tais atitudes sem ao menos nos manifestar.
    Parabéns pela iniciativa, e eu como jornalista em formação, jamais vou me calar diante da nossa realidade.
    Abrçss Ju

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  4. um clichê musical diria que a polícia no Rio de Janeiro não passa de um bando de assassinos armados uniformizados. E poeque vi enquanto morei no Rio, pertinho de você (na Freguesia), a cidade é uma bomba-relógio, só que ninguém está vendo o contador e vão deixando as coisas rolarem, só porque ainda não explodiu.

    Nana, faz um favor? vai lá no meu blog, dá ima lida no post e ajuda a acender velas? Contra e pedofilia na internet...

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  5. Nana, a violência vivida e vista hoje em dia me assusta muito e já ouvir pessoas dizerem que temos que nos acostumar, assim não viveremos. Acho impossível nos acostumarmos com isso. Para mim, não é normal.

    Beijos

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  6. Eu também assino embaixo! Excelente, Naninha!

    Ó, da uma olhada no meu post hoje, ele também é pra você!

    Beijão

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  7. Ah, eu nunca entendo essa coisa de milicia. HOje em dia tá foda.

    Beijo

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  8. nana...
    rapar soh agora consegui postar sobre a blogagem coletiva ...meu pc tava com pro justamente no fds ai ja viu, dai soh consegui dar um jeito em td recentemente...e ainda por cima a correria q ta la na facul...enfim! foi mals a lentidao! rsss
    beijuu!

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  9. Forte o teu texto Nana. E que verdade! Eu concordo realmente com tudo, trata-se de uma realidade cheia de pontas, pontos de vistas, e quase nenhuma soluçao à vista. FIca sempre aquele fio de esperança que a gente nao sabe como é que tem, e a vida vai seguindo.

    Também vive boa parte da minha via submerso numa realidade parecida. Nao eram bem favelas, porque na minha época Manaus e Rio Branco eram menores e ainda nao podia-se considerar os bairros em que morei 'favela' mas é uma questao de nomes, a realidade era muito semelhante, com "bandidos" e "policiais" por todos os lados inspirando medo eterror - e algumas vezes segurança.

    Eu curto muito quando vc escreve textos sobre isso.

    Bj.
    Inté!

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