10 de agosto de 2008

O QUE É VIRTU@L?


Entrei apressado e com muita fome no restaurante. Escolhi uma mesa bem afastada do movimento, pois queria aproveitar os poucos minutos de que dispunha naquele dia atribulado para comer e consertar alguns bugs de programação de um sistema que estava desenvolvendo, além de planejar minha viagem de férias, que há tempos não sei o que são. Pedi um filé de salmão com alcaparras na manteiga, uma salada e um suco de laranja, pois afinal de contas fome é fome, mas regime é regime, né? Abri meu notebook e levei um susto com aquela voz baixinha atrás de mim -Tio, dá um trocado? - Não tenho, menino. - Só uma moedinha para comprar um pão. - Está bem, compro um para você. Para variar, minha caixa de entrada estava lotada de e-mails. Fico distraído vendo poesias, as formatações lindas, dando risadas com as piadas malucas. Ah! Essa música me leva a Londres e a boas lembranças de tempos idos. - Tio, pede para colocar margarina e queijo também? Percebo que o menino tinha ficado ali. - OK, mas depois me deixe trabalhar, pois estou muito ocupado, tá? Chega a minha refeição e junto com ela o meu constrangimento. Faço o pedido do menino, e o garçom me pergunta se quero que mande o garoto ir. Meus resquícios de consciência me impedem de dizer. Digo que está tudo bem. - Deixe-o ficar. Traga o pão e mais uma refeição decente para ele. Então o menino se sentou à minha frente e perguntou: - Tio, o que está fazendo? - Estou lendo uns e-mails. - O que são e-mails? - São mensagens eletrônicas mandadas por pessoas via Internet. Sabia que ele não iria entender nada, mas a título de livrar-me de maiores questionários disse: - É como se fosse uma carta, só que via Internet. - Tio, você tem Internet? - Tenho sim, é essencial no mundo de hoje. - O que é Internet, tio? - É um local no computador onde podemos ver e ouvir muitas coisas, notícias, músicas, conhecer pessoas, ler, escrever, sonhar, trabalhar, aprender. Tem tudo no mundo virtual. - E o que é virtual, tio? Resolvo dar uma explicação simplificada, novamente na certeza que ele pouco vai entender e vai me liberar para comer minha refeição, sem culpas - Virtual é um local que imaginamos algo que não podemos pegar tocar. É lá que criamos um monte de coisas que gostaríamos de fazer. Criamos nossas fantasias, transformamos o mundo em quase como queríamos que fosse. - Legal isso. Gostei! - Mocinho, você entendeu o que é virtual? - Sim, tio, eu também vivo neste mundo virtual. - Você tem computador? - Não, mas meu mundo também é desse jeito... Virtual. Minha mãe fica todo dia fora, só chega muito tarde, quase não a vejo. Eu fico cuidando do meu irmão pequeno que vive chorando de fome, e eu dou água para ele pensar que é sopa. Minha irmã mais velha sai todo dia, diz que vai vender o corpo, mas eu não entendo, pois ela sempre volta com o corpo. Meu pai está na cadeia há muito tempo. Mas sempre imagino nossa família toda junta em casa, muita comida muitos brinquedos de Natal, e eu indo ao colégio para virar médico um dia. - Isto não é virtual, tio? Esperei que o menino terminasse de literalmente 'devorar' o prato dele, paguei a conta e dei o troco para o garoto, que me retribuiu com um dos mais belos e sinceros sorrisos que eu já recebi na vida, e com um 'Brigado tio, você é legal!'. Ali, naquele instante, tive a maior prova do virtualismo insensato em que vivemos todos os dias, enquanto a realidade cruel rodeia de verdade, e fazemos de conta que não percebemos!


Recebi esta mensagem por e-mail e o autor é desconhecido.

8 comentários:

  1. Olá, querida passando pra te desejar um ótimo início de semana e pra dizer que adoreio seu novo post.
    Beijos

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  2. Eu já conhecia esse texto e me dá um nó na garganta toda vez que o leio...
    Espero que algum dia isso tudo vire apenas uma lembrança virtual... se Deus quiser!

    Beijo, Nana

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  3. Nó na garganta. É isso que senti também.
    O problema do texto é que ele termina com um cara dando uns trocados pro menino e cada um seguindo a sua vidinha. Que não sei qual é mais mediocre. A minha ou a do garoto.
    Pois é..
    enfim, é isto ai....
    beijão do amigão

    (Isto aqui tá muito lento para abrir, viu dona Nana?)

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  4. Ai, G-zuis! Eu não acho que tá lento, mas tem um monte de gente achando...=/ Será que é algum widget que você colocou aqui que tá pesando, Lu? =/

    Eu ia dizer que da primeira vez que li esse texto eu chorei e que agora também... Novidade eu chorar, heim? 0_o

    Beijos, pessoa que eu adoro!

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  5. Putsz, que história heim?
    E quantos mais passam por isso né?
    Beijos pra tu amore.

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  6. É, Nana!

    Potencialmente, esta história se repete todos os dias em milhares de restaurantes, cafés e lanchonetes. Apenas potencialmente...

    Todos os dias um menino destes cruza o nosso caminho, pelo menos uma vez. O pedido é sempre o mesmo... "Dá um pedacinho, tio?" ou "Dá uma moedinha, tio? Só pra ajudar..."
    Alguns de nós dirão "Não tenho!" ou "Toma!". Qualquer coisa que nos livre do incômodo e, principalmente, da culpa de não sermos de verdade "tio" dele e, portanto, não podermos realmente ajudar o menino, não importa quantos pedacinhos ou moedinhas dermos.

    Outros nada dirão e exercitarão a incrível capacidade aprendida durante a vida toda de ignorar ou, ainda pior, de olhar através daqueles olhos que suplicam como se ali não estivessem. Olhos de criança... olhos que suplicam... Ai! Pra gente que tem, ou já teve, na própria casa ao menos um parzinho destes olhos, é muito doloroso!

    Mas as autoridades, com toda a sua sabedoria burocrática, orientam exatamente a ignorar, mandam não ajudar. É como se espalhassem placas por toda a cidade com os dizeres "Não alimente os animais!" e, pronto, está resolvido o problema. A grande questão é que ignorar simplesmente não tira os meninos da rua, nem muito menos lhes enche a barriga, tampouco os livra das surras por chegar em casa de mãos vazias e, muito pior do que tudo isto, não estamos falando de animais.

    E agora? O que devemos fazer? Seguir as orientações das autoridades ou seguir o nosso coração, como fez o protagonista da tua crônica?

    Não posso deixar de lembrar que as penas mais pesadas provêm do foro íntimo.

    Tchau, Nana! Vou embora com um nó na garganta e um peso de uma tonelada na consciência.

    Um beijo cheio de melancolia e culpa!

    Urbano (direto do trabalho)

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  7. É meio relativo Nana. Acho que podemos aprender a usar o virtual como ferramenta de mudança do real. Mas o que é real ou virtual? Como diz o Leandro neres, considero real muita coisa do mundo virtual.

    Entendo o texto, quando vivemos só para o virtual alguma coisa está errada...

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