1 de abril de 2008

Consciência Social?

Aqui no Rio tem um Supermercado na Barra que tem uns fast foods. Aí ontem eu estava almoçando com minha mãe quando uma garoto de +/- 7 anos chegou na mesa que estavámos: "Tia, me dá um pouquinho de coca ae? " Eu não dei, mas um senhor que estava na nossa frente deu um pouco de Sprite pra ele e o menino foi embora. Claro que o senhor me olhou com aquela cara de repugnância fazendo com que eu me sentisse a pior das criaturas. E isso me incomoda mais que o garoto pedinte por que eu tenho consciência que fiz o certo. O menino não era de rua, tinha casa e eu falo por que sei que tem. Hoje em dia quase não existe mais medigo, existe pedinte, que vai pra rua esmolar(Ex: aquele pessoal que fica na Gávea próximo ao clube do Flamengo; todos têm casas).
“Dar” qualquer coisa que seja não é a solução, mas tem gente que acha que fazendo isso já está fazendo a sua grande parte pra um mundo melhor. “Dar” não é um gesto nobre pra nenhuma das partes, quem dá só está contribuindo para que o pedinte continue a pedir cada dia mais e impedindo que ele tenha alguma dignidade. Quem pede, acredita que uma ‘expressão comovente’ pode ‘abrir portas’ pela vida a fora e se acostuma com essa situação. Um dia o pedinte perde a expressão comovente e aprende que pra conseguir alguma coisa vai ser preciso bem mais que fazer uma carinha triste e o caminho é o assalto.
Lugar de criança é dentro de casa ou da escola e não esmolando Coca-Cola. E nem que fosse comida.
As pessoas têm o hábito de se comover com a miséria alheia (e ela realmente existe), mas eu afirmo quem nunca chegou perto da merda não pode saber se ela fede muito ou pouco.
Existe criança passando fome? Existe. O Estado falha na educação e na saúde? Falha. Existe desemprego? Existe. Mas eu pergunto: Tem opção? Sempre tem.
Na minha vida toda (Ta, eu sei, só 24 anos. Mas foi o suficiente) eu vi gente que chora miséria, mas tem dinheiro pro que interessa. Cansei de ver gente correndo no movimento pra pedir dinheiro pro remédio do filho doente, aí você pensa: “Claro, os remédios são caros, o salário é ridículo, o Estado falha e a solução é os moleque mermo”. Mas um mês depois o mesmo cara que pediu dinheiro na boca tá fazendo um churrasquinho na laje pra vizinhança e nem lembra que a qualquer momento o filho ou ele próprio pode adoecer de novo e não ter R$ pro remédio que é caro demais. Ok é a única diversão que o cara tem na vida, mas isso não justifica ele não pensar no dia de amanhã e ficar devendo favor.
Ontem, minha mãe e eu fomos visitar uma pessoa que trabalhou na minha casa na época da minha adolescência. Uma mulher por quem tenho enorme carinho e que estava com dengue. Ela é uma ótima pessoa, coração enorme, mas é um exemplo dessas pessoas que quando está tudo bem, pega o dinheirinho e vai pro bar beber sua cervejinha no fim de semana, mas quando fica doente... Ontem mesmo quando cheguei à sua casa lá estava ela, magra igual pau de virar tripa por causa da doença e da necessidade que passou sem poder trabalhar, mas com seu maço de cigarro do lado.
E os casos das mulheres que tem filho como investimento pra não morrer de fome? Na rua que eu morava tem uma mulher que sem exagero, tem tanto filho que não ouso arriscar um nº. Muito se fala em Bolsa Família, mas há anos existe um programa assistencial (FIA) que dá “cestas” pra cada filho menor de 7 anos ou para o responsável que cuide da criança. Morrer de fome não morre. Como ela, há muitas. Algumas fazem uma diária pra poder ter o ‘din-din’ do pagode no sábado ou comprar uma ‘carninha’ pro almoço, ou uma calça nova de marca.
Conheço uma senhora de 83 anos tem 7 filhos e uma artrose que a impede de andar normalmente, quando ela precisa ir ao hospital fazer algum exame fica dependendo da boa vontade (que realmente existe) de algum vizinho pra leva-la de carro, mas todos os domingos seus 7 filhos e netos se reúnem pra beber sua cervejinha. Então não seria lógico que eles poupassem o da bebida pra pelo menos pagarem um táxi pra mamãe querida?
E as meninas que engravidam cedo e não param mais? A culpa é de quem? Do governo? Da escola? Pois é, poucas pessoas sabem, mas até um tempo atrás o Posto de Saúde da Cidade de Deus, por exemplo, dava anticoncepcionais de graça. Qual a justificativa então? Muita gente também não sabe, mas só na CDD tem 7 escolas municipais e quando eu era criança, a Glória Maria fez uma reportagem lá na favela sobre crianças que não “tinham escolas” e um menino que morava uma rua atrás da minha aparecia na reportagem dizendo que não ia à escola por que não tinha escola na CDD e ele não tinha uniforme. Só que a mãe dele e as tias todas trabalhavam e as irmãs dele freqüentavam escola. Na época ele já era do movimento e já tinha nome na favela. “Ah, ele não teve oportunidade por isso foi por esse caminho. Tadinho”.
Eu trabalhei numa loja uns anos atrás e minha gerente me dava carona na volta pra casa. Ela sempre dava moedas pra um ceguinho que ficava no sinal que tem na lateral do Hospital Lourenço Jorge e sempre dizia a mesma coisa: “Ah se ele é cego mesmo eu não sei, mas pelo menos eu fiz a minha parte”. Consciência Social né?

Aí você se pergunta: ”Ué! Por que ela ta falando essas coisas? Então ela acha que todo pobre e favelado é safado?” Claro que não. E quando citei os exemplos acima não estou generalizando. Só que eu não acho que ter pena do miserável seja a melhor solução, por que eu sei que tem gente que usa da miséria e do comodismo pra obter vantagens. Estou falando isso por que quando eu falo que a Educação desse país tem que mudar eu não estou falando de reformas nos prédios escolares nem só de computadores, matemática e gramática nas salas de aulas, estou falando de investimento na estrutura familiar, que é onde está a raiz de todos os problemas.
Existe um ciclo vicioso de erros e safadezas desde o mais desgraçado até o mais safado. Eu erro, você erra, todos nós erramos. Em algum momento deixamos de fazer o certo pra tirar proveito de algo. Não adianta pôr a culpa no governo quando você também suborna o guarda. E depois querer justiça social pra um povo que você nem sabe quem é nem como vive. Repito: o Estado deixa brechas, mas nós sempre temos escolha. Ou então só saíria gente ruim das favelas.
Justiça e consciência social não é tão simples assim.
E só assistir a seriados como Cidade dos Homens e se comover com a desgraça alheia não resolvem. E como eu disse lá no começo, quem nunca chegou perto da merda não pode saber se ela fede muito ou pouco. Portanto, não dê palpite numa história que você não conhece bem porque o buraco é mais embaixo.

Beijo!

10 comentários:

  1. concordo com vc. Sou professor na baixada, e vejo esses casos de perto. Todos os dias

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  2. Naninha, concordo plenamente com você. Dar esmolas nunca foi a solução pra nenhuma deficiência social, muito pelo contrário,se damos esmolas, só estamos contribuindo para a proliferação de pedintes! É muito triste ver a que ponto chega um ser humano... Essa coisa de dar ou não esmolas já foi ensinada pelo próprio Jesus, quando disse que não devemos dar o peixe à quem tem fome e sim, ensinar a pescar.
    Grande lição!

    Beijos

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  3. Nunca foi e nunca será...


    Ao meu ver, temos que investir em educação


    Muito bom essa sua cinciência social, por que és sim...da sua parte um grande avanço fazer isso para alguém ler

    ótimo texto, belo blog

    parabéns

    beijão


    http://endlessblackhole.blogspot.com/

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  4. Eu sou da seguinte opinião: eu não dou "esmola" e pronto. Não importa a causa, não importa a origem e nem importa quem peça.
    Isso é um ciclo vicioso e eu não quero fazer parte dele.

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  5. Sei que dar é um paliativo... Sei que você tem boas razoes pra nao dar.

    Mas acho que às vezes dar vale a pena, muitas vezes por sinal. mesmo pra quem a gente sabe que nao precisa, ainda pra quem de uma forma ou de outra... precisa.

    Nao estou discordando totalmente do texto, pois entendi o que você está frisando. No entanto, penso que mesmo que o ensinar a pescar seja o ideal, algumas vezes as esmolas sao importantes para o momento.

    Beijo.
    Inté!

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  6. (acho que é importante também, nao ver a esmola como uma esmola. Eu nunca dou pensando assim. Penso como um presente, isso qd eu nao conheço, quando conheço... ah... aí a pessoa tem de escutar :P )

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  7. Olá Everton, eu entedi o que disse sobre o 'momento'. As vezes a pessoa esta realmente precisando, e em muitos desses casos nem se trata de esmola, pq devemos ajudar independente da pessoa e do que ela fez para estar ali naquela situação de necessidade. Nesses casos, as vezes nem chega a ser pedinte.
    Mas a grande maioria dos 'pedintes' não tem necessidade mesmo. É o hábito de pedir.
    Por isso não dou 'esmolas' nem nada que me peçam. Agora ajudas sim, pq tem diferença.

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  8. Meu Deus, o garoto só pediu um poquinho de Coca...
    Eu ia te pedir um dinheirinho emprestado fiquei até com medo.

    Fui.

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  9. Comentar este post daria quase um outro post.
    Eu não tenho compaixão com a miséria.E olha, eu sei que a merda fede pq já estive lá dentro.Da minha época de garoto, só restaram os amigos da Escola (era escola particular) porque os garotos da vizinhança morreram todos.
    Minha mãe era muito religiosa, meu Pai não. E a gente era obrigado a fazer coisas que os outros garotos não faziam, como ler a Biblia, ir a escola, trabalhar...trabalhar muito.Minha mãe não deixava a gente se misturar com os outros garotos.A gente cresceu.8 irmãos, todos vivos.
    Quanto às esmolas, bem, uma vez me pediram 1 cigarro.Recusei.Não sabia que o cara era foragido. Dou esmolas sim, mas por medo.

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  10. Amigão, pedir um dinheirinho emprestado?
    Nem tenta!
    rsrs

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